Como todos sabem, as eleições estão chegando. E é claro que um novo presidente será eleito e a essa altura todos já têm um lado – afinal, assim como os três últimos da Marvel, a campanha eleitoral para presidente existe apenas por mérito de fan service.

Porém pouco se fala sobre o jogo que não está ganho: os deputados e senadores. Enquanto todos sabemos muito bem os motivos pelos quais votaremos para presidente, os deputados correm solto na luta pela sua atenção – às vezes é um sorriso, as vezes é um corte de cabelo, quase nunca é uma proposta política, e quase sempre é uma boa rima. Os deputados aprenderam cedo demais o que os Tiktokers ainda acham que inventaram: engajamento se conquista nos primeiros 5 segundos.

O deputado precisa de dois elementos pra te conquistar: um bom nome e um bom número – e o que quer que ele resolva fazer com essas duas informações. Pode parecer uma matéria-prima fraca para se trabalhar em cima, mas é preciso saber explorá-las ao máximo: um nome não é só um nome, é uma identificação, e você pode ser identificado por qualquer aspecto da sua vida, o importante é criar referências. Exemplo: se você tem uma Kombi, você não precisa mais ser só o Valter – você pode ser o Valtinho da Kombi, muito mais memorável e acessível. O mesmo vale para proprietário(a)s de barracas de açaí, presenteados com o sufixo “do açaí”, ou sósias do Jackie Chan nascidos em São Luiz, que podem ser simplificados em “Jackies Chans do São Luiz”.

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Uma vez estipulado o nome artístico – ou em analogia Tiktoker, o “arroba” – basta que se estabeleça a performance. sempre entra bem, principalmente quando embalada pelos números do candidato, já que estamos falando de uma fórmula milenar para se decorar sequências numéricas importantes e Leis de Newton – musicá-las em ritmo de Ilariê. Estamos também prestes a viver as nossas primeiras Eleições Gerais desde a grande ascensão das dancinhas, então imagino que muitos vão se adiantar a essa tendência – o que me parece uma estratégia inteligente, já que é a oportunidade de deixar registrada em vídeo mais uma competência, e na falta de critérios, um bom jogo de cintura e malemolência podem ser os diferenciais que o eleitor precisa para tomar uma decisão.

O grande juiz do horário eleitoral é o tempo. É ele que cria a tensão necessária para que o essencial sublime. Se não fosse o senso de urgência, a mensagem se perderia em um mar de subjetividade. E foi essa a sabedoria que o Tik Tok soube chupar dos nossos candidatos: tudo que precisa ser dito, pode ser dito melhor em apenas 15 segundos. Os grandes artistas são os que se expressam em condições adversas, e o horário eleitoral é a mais adversa delas – desafiada talvez apenas pelo Faustão, que dá menos tempo para os seus convidados falarem.

Nessas eleições, saiba apreciar as escolhas criativas dos seus candidatos: a rima, a frase de efeito, a sonoplastia, o lado em que ele dividiu o cabelo -tudo isso conta. As propostas a gente deixa para descobrir depois, quando tivermos tempo para isso. O importante agora é saber se o candidato soube entregar entretenimento, porque se ele fez boas escolhas estéticas, ele fará boas escolhas políticas. E para ilustrar esse pensamento, fiquem com mais um remake das comemorações de 10 anos do Porta dos Fundos, o canal que faz o que faz pela saúde, pelas educação e pelos idosos.

*Gabriela Niskier é roteirista do Porta dos Fundos, no instagram: @gabrielaniskier

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