Quem vai assistir a “Em Casa com os Gil” esperando por um com tretas de família como “The Kardashians” ou “The Osbournes” vai perceber um grande equívoco. Embora no primeiro episódio Preta Gil brinque que quer ser a Kim Kardashian da atração, a documental do Prime Video passa bem longe disso – ainda bem. O que se vê, ao longo de cinco episódios, é um registro intimista de um dos maiores artistas do país e uma breve revisão de sua obra, pelos olhos de filhos, netos, noras, genros, esposa. Gilberto Gil merece esse material histórico e delicado, em que a câmera parece um parente, de tão infiltrada na rotina de todos.

Ao contrário das Kardashians, por exemplo, não há espaço para grandes futilidades. Até mesmo questões estéticas são colocadas de maneira mais substancial e profunda, embora, por vezes, a introdução a alguns assuntos pareça menos orgânica. O discurso, no entanto, é muito acertado. Mais do que refletir sobre o mundo pós-pandêmico, o que o programa se propõe é apresentar para todo o país uma família com dinâmica própria, muito unida e amorosa, mas com leves pontos de tensão e também traumas a superar.

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São muito fortes, por exemplo, depoimentos sobre o racismo sofrido pelos filhos do cantor, que não conseguiam, mesmo sendo filhos de um famoso, estudar num colégio perto de casa por “nunca ter vaga”. Em dado momento, Nara Gil – ícone de “Armação Ilimitada” – conta que seu filho já foi perseguido por um segurança.

É normal que, em frente às câmeras, todos queiram evitar conflitos. Mesmo assim, alguns deles, muitos geracionais, são retratados sem grandes questões. Até porque o rico passeio por canções seminais da MPB proposto por meio de uma espécie de amigo secreto supera todo e qualquer barraco. Brigas de show, em sua imensa maioria, caem no esquecimento. A obra de Gilberto Gil e o amor que une essa família, não. “Em Casa com os Gil” é uma joia rara no mundo do .